A vitória ficou com Evans Chebet e Hellen Obiri, que se vingou da Maratona de Nova York
O mundo (ou quase todo mundo) parou para ver a estreia do queniano Eliud Kipchoge na Maratona de Boston. A expectativa sobre o queniano era enorme. A lenda viva do atletismo iria superar sua primeira maratona com subidas e descidas com a mesma desenvoltura que venceu 15 das 17 provas que já disputou? Mas como Kipchoge é feito de carne e osso, assim como como eu e você, ele também está sujeito a dias sombrios (era assim que estava o clima em Boston, com chuva leve e temperatura em 10º Celsius). A estrela do dia viu seu compatriota Evans Chebet repetir o feito do ano passado e se tornar o sexto bicampeão da prova em 126 anos e o primeiro nos últimos 15 anos. O último foi o também queniano Robert Cheruiyot, em 2008.
Era normal que as atenções estivessem voltadas para Eliud, mas a vitória de Chebet não é surpreendente pela carreira que tem. Esse queniano de 34 anos venceu seis das últimas sete maratonas que disputou nos últimos quatro anos. Sua primeira vitória nos 42 km foi aqui no nosso “quintal”. Em 2019, ele venceu a Maratona de Buenos Aires, com 2:05:00. Na sequência vieram Lake Biwa, no Japão, com 2:07:29; e Valência, com 2:03:00, oitava melhor marca da história, ambas em 2020. Em 2021, ele ficou em quarto em Londres, com 2:05:43. Em 2022, Chebet venceu pela primeira vez em Boston, com 2:06:51 e em Nova York, com 2:08:41.
COMO FOI A PROVA. Como sempre, Kipchoge comandou o espetáculo desde a largada. A certeza da vitória do queniano era tanta que um cinegrafista foi destacado para acompanhá-lo durante toda a prova. Uma outra moto seguia de olho no pelotão e, a partir do Km 30, nas colinas de Newton, o cinegrafista que seria o coadjuvante, passou a ter o protagonista. De suas lentes saíram as imagens que fizeram surgir muitos “Oh!”, após a disparada do trio formado por Chebet, o queniano Benson Kipruto (seu parceiro de treinos) e o tanzaniano Gabriel Geay. Eles foram se revezando até que, no quilômetro final, Chebet forçou o ritmo e cruzou a mítica linha de chegada na Boylston Street com 2:05:54. Geay terminou em segundo, com 2:06:04, com Kipruto em terceiro, com 2:06:06.
E como ficou Eliud? Ele terminou na sexta colocação, com 2:09:23. A última vez que não foi ao alto do pódio foi na Maratona de Londres de 2020, quando foi oitavo, com 2h06min49s, com condições climáticas semelhantes às de hoje em Boston, só que em meio à pandemia. Berlim, em 2013, sua segunda maratona na carreira, foi a primeira que não venceu, terminando em segundo lugar, com 2:04:05. Na ocasião, o vencedor, o também queniano Wilson Kipsang, bateu o recorde mundial da distância.
Se não garantiu a premiação de US$ 150 mil pela vitória mais um bônus pela participação, Kipchoge acrescentou a medalha de Boston na sua coleção das provas de Majors. Agora só falta a de Nova York, que ele planeja ou planejava disputar este ano. Completada a mandala das Majors, o atleta vai focar no tricampeonato olímpico em Paris.
MULHERES. A prova feminina foi mais disputada que a masculina. Até o quilômetro final, cinco atletas disputavam a liderança. A vitória foi da queniana Hellen Obiri, em sua segunda prova de 42 km, com 2h21m38s. De certa forma, Obiri, que tem como treinador o americano Dathan Ritzenhein e treina nos EUA se vingou de sua estreia na Maratona de Nova York no ano passado, em que foi a sexta colocada. Em segundo lugar ficou a etíope Amane Beriso, com 2h21m50s, seguida pela israelense Lonah Salpeter, com 2:21:57. A queniana é duas vezes medalhista olímpica de prata nos 5.000 metros, no Rio-2016 e em Tóquio-2020. O detalhe interessante é que Obiri é a primeira atleta a vencer uma grande maratona usando um tênis com placa de carbono da On Running.
AINDA SOBRE ELE. Muitos estão se questionando se a idade de Kipchoge pesou na prova de hoje. Ele foi recordista mundial aos 37 anos e não teve um dia legal em Boston.
“Eu vivo para os momentos em que posso desafiar os limites. Nunca é garantido, nunca é fácil. Hoje foi um dia difícil para mim. Eu me esforcei o máximo que pude, mas às vezes, devemos aceitar que hoje não era o dia de subir o sarrafo para uma altura maior”, escreveu em seu perfil no Instagram.
Se Pelé, o maior atleta do século, não venceu uma Copa, a de 1966, na Inglaterra, não é o fim do mundo por Kipchoge ter perdido Boston. Ele ainda tem muitos quilômetros pela frente e muitos sarrafos para pular.
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