O modelo tradicional, de inscrições por lotes, mostra sinais claros de desgaste em uma prova que não precisa usar desse método para atrair os corredores
A Maratona do Rio é detentora de três títulos: a de maior maratona, maior meia-maratona e prova mais desejada do Brasil. Os dois primeiros títulos são baseados em números: os 42 km tiveram 7.365 concluíntes em 2023, que é quase o dobro da segunda colocada, a Maratona de Porto Alegre, que contou com 4.087. Já os 21 km no Rio, contaram com 14.474 participantes também em 2023, muito à frente da segunda maior, a meia da São Paulo City Marathon, com 8.679 concluíntes.
Já a questão da prova mais desejada é uma questão de obviedade mesmo. Além de ser maior prova de 42 km e de 21 km do Brasil, é o maior destino turístico brasileiro, afinal de contas, é a Cidade Maravilhosa. O problema é que os corredores enfrentaram enorme dificuldade de se inscrever na prova deste ano. E essa dificuldade tem nome: inscrição por lotes. Os lotes de inscrição tinham número limitado de vagas e elas se esgotaram muito rapidamente, o que gerou uma enorme frustração nos corredores que não conseguiram se inscrever, apesar de muito esforço e de ficarem horas na frente do computador (em muitos casos, em mais de um e pedindo ajuda a amigos e familiares) dando F5 para atualizar a tela e fazer a sua tentativa.
O sistema de lotes funciona para provas que não tem uma demanda tão grande e serve para incentivar a inscrição pela mudança do valor dela. A cada mudança de lote, o valor aumenta. Mas esse sistema já não faz o menor sentido na Maratona do Rio, porque que está mais do que óbvio que não há problema algum de demanda por inscrições.
A SOLUÇÃO. Qual seria a maneira de resolver essa questão para a edição de 2025 (já que não há como voltar atrás pelo ocorrido para a edição deste ano)? Eu tenho duas propostas. Uma é a mais simples: inscrições em lote único. A organização pode usar o mesmo expediente da Maratona de Valência – abrir uma lista de espera para quem ficar de fora. Como as inscrições irão se esgotar com bastante antecedência, é capaz da pessoa inscrita não poder correr a prova por motivo de lesão, viagem de trabalho, ou outra coisa. Quem abrir mão de correr libera a vaga, que é cedida para quem estiver na lista de espera.
A outra solução, que eu, pessoalmente, acho a melhor, é o sorteio das vagas e este é o cenário que eu entendo com o ideal. A organização estabelece um período de inscrição no sorteio, que pode ser de um a dois meses e depois realiza o sorteio. Eles também podem deixar um número de vagas reservado para agências de viagem conveniadas e para entidades de caridade, algo comum nas grandes provas do mundo e que representa cerca de 10% das vagas. No caso das agências conveniadas, a inscrição fica associada a venda do pacote e no caso das entidades de caridade, a pessoas precisariam conseguir um arrecadar um valor que fosse, sei lá, entre 5 a 10 vezes, cinco vezes o valor da inscrição, que iria para entidade e o corredor teria direito a sua vaga na prova. Com o sorteio, a organização poderá saber o número real de pessoas que querem correr a prova e fazer um planejamento mais confortável de aumento de vagas com dados reais para os próximos anos.
De qualquer forma, independentemente do que a organização do Rio decidir fazer para a edição de 2025, está mais do que claro para mim que esse sistema de inscrição por lotes precisa ser revisto de qualquer forma para diminuir, de alguma forma, a frustração dos corredores que desejam tanto correr a prova.