O queniano, que só venceu provas predominantemente planas, vai encarar pela primeira vez as subidas e descidas da maratona mais tradicional do mundo
O melhor maratonista da história vai encarar um desafio inédito em sua carreira na próxima segunda-feira (17). Estreante na Maratona de Boston, Eliud Kipchoge precisa mostrar que também é capaz de vencer uma maratona com subidas e descidas.
Dono de marcas incríveis nos 42km, o queniano fez sua fama e glória em provas predominantemente planas. São 17 maratonas disputadas com 15 vitórias, dois recordes mundiais e duas medalhas olímpicas de ouro.
Kipchoge, de 38 anos, vai encarar a maratona que tem a maior variação de altitude entre a largada e a chegada. Os corredores partem de Hopkinton, a 149 metros do nível do mar, e terminam em Boylston Street, em Boston, a 3 metros acima do mar. Por este motivo, o percurso, que passa por oito cidades e vilas, não é válido para a obtenção de recorde mundiais.
Este é o décimo ano de Kipchoge como maratonista. Antes de migrar para o asfalto, o queniano teve como principal resultado nas pistas o primeiro lugar nos 5.000m no Mundial de Paris, em 2003. Sua estreia na maratona foi em Hamburgo, em 2013, quando venceu com tempo de 2h05m30s. Desde então são quatro títulos em Berlim (2015, 2017, 2018 e 2022), quatro em Londres (2015, 2016, 2018 e 2019), dois olímpicos (Rio-2016 e Tóquio-2020), Chicago (2014), Roterdã (2014), NN Mision (2021) e Tóquio (2022).
Todas as vitórias de Kipchoge...
... e quando ele não foi o melhor
Além das subidas e descidas, outra característica de Boston é de não contar com coelhos ou pacers e da temperatura pregar algumas peças nos corredores, com anos quentes e outros com bastante frio. Mas isso, claro, não intimida Kipchoge. Ele já disse que está confiante e que será capaz de lidar com qualquer tipo de corrida: lenta e tática ou como um caçador de tempo. O queniano vai chegar cedo à cidade para explorar algumas das subidas do percurso, como Newton Hills. “Isso vai me dar mais paz”, comentou ele.
O recordista mundial, que ainda tem como maior sonho ser o primeiro ser humano a correr uma maratona oficial abaixo de 2 horas, não se importa se não fizer um tempo excepcional em Boston. "Posso correr uma bela corrida. Bonito não significa que você corre muito rápido. Bonito não significa que você bate um recorde mundial. Bonito significa que você se diverte e faz seus fãs felizes”, disse ele a Runner's World.
A vitória na 127ª edição da maratona mais antiga do mundo pode render ao queniano, por todo o seu prestígio, mais que os US$ 150 mil dados normalmente ao campeão porque se ele estiver no alto do pódio na segunda-feira, ficará faltando apenas vencer a Maratona de Nova York no final do ano para fechar o circuito das Majors de forma inédita, algo que ele já deixou claro que deseja ser o primeiro atleta a fazê-lo.
Para 2024, Kipchoge tem como objetivo estar na maratona das Olimpíadas de Paris para ser o primeiro tricampeão da história. Atualmente, ele compartilha a galeria de bicampeões com o etíope Abebe Bikila, que venceu, descalço, Roma-1960 (2:15:16) e Tóquio-1964 (2:12:11), e o alemão Waldemar Cierpinski, campeão em Montreal-1976 (2:09:55) e Moscou-1980 (2:11:03).
Perceba que a missão do queniano é de deixar um legado praticamente impossível de ser igualado. Quem viver verá.
Mas... O Kipchoge treina em local onde aclives é declives são parte integrante dos percursos de treinamento. A altimetria não será problema. O "problema" é que é uma maratona. Por currículo o Kipchoge nem precisaria correr, seria somente necessário apresentar a lista de triunfos e os tempos obtidos.